Notícias

Salvador perde 34 casarões históricos em seis anos; desabamento da Igreja de São Francisco expõe descaso

Foto: Defesa Civil

Entre 2018 e 2023, Salvador viu ruir 34 imóveis históricos, dos quais 17 eram oficialmente tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). O cenário de degradação se agravou com o recente desabamento parcial da Igreja de São Francisco, no Pelourinho, que resultou na morte de uma turista e feriu outras seis pessoas.

Os números podem ser ainda maiores, já que os dados de 2023 aguardam atualização. O Metro1 solicitou novas informações ao Iphan para um panorama mais detalhado da situação.

Tombamento sem conservação?

O episódio trágico na Igreja de São Francisco levanta uma questão fundamental: de que adianta o tombamento se os imóveis seguem abandonados e expostos à deterioração? A crítica também foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em entrevista à Rádio Metropole, ironizou o sistema atual.

“Tenho uma bronca desse negócio de tombamento. Quando você tomba, precisa ter dinheiro para manter. Tomba e a coisa vai apodrecendo, caindo. Então, para que tombar se não há responsabilidade?”

Lula defendeu uma política mais eficaz, que vá além do registro burocrático e garanta a preservação do patrimônio.

A responsabilidade pela manutenção

A tragédia na Igreja de São Francisco já era um risco alertado por especialistas e religiosos. Dias antes do desabamento, o frade guardião e diretor da igreja, Pedro Júnior Freitas da Silva, já havia notado dilatações no forro do teto. Em outubro de 2023, uma ordem de serviço no valor de R$ 1,2 milhão foi assinada para a restauração do templo, mas as obras não avançaram a tempo de evitar o acidente.

O Iphan, por sua vez, reforça que sua função é tombar, fiscalizar e regulamentar a preservação dos bens históricos, mas não executar diretamente as obras de conservação. A responsabilidade pela manutenção cabe aos proprietários, como no caso da Igreja de São Francisco, gerida pela ordem franciscana.

Enquanto isso, Salvador segue perdendo parte de sua história a cada novo desabamento. O Metro1 aguarda resposta do Iphan e do Ipac sobre as atualizações da situação dos imóveis tombados e os próximos passos para evitar novas tragédias.