O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou neste domingo (11) que os países do G20 devem buscar consenso, em vez de divisões, para avançar na redução das desigualdades globais. A declaração foi feita em resposta a uma pergunta sobre o presidente argentino Javier Milei, que adota uma postura contrária ao multilateralismo, aos acordos climáticos e, recentemente, foi o único a votar contra uma resolução da ONU pelo fim da violência contra mulheres e meninas. A Argentina, liderada por Milei, estará presente na Cúpula do G20, que ocorre no Rio de Janeiro na próxima segunda (18) e terça-feira (19).
“A Agenda 2030 foi consensualmente aprovada por todos os países do mundo e é o caminho claro para enfrentar as enormes desigualdades e injustiças globais. Por isso, faço um apelo aos países, no contexto das negociações do G20, para que demonstrem espírito de consenso, bom senso e busquem transformar essa reunião em um sucesso, com decisões relevantes para a ordem internacional. Se o G20 se fragmenta, perde sua relevância global, o que considero indesejável em um mundo já marcado por tantas divisões geopolíticas”, declarou Guterres.
Entre as preocupações para a cúpula está a possível influência de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, que compartilha posições políticas semelhantes às de Milei e pode mobilizar aliados para defender ideias de dissensão durante os debates. Questionado sobre como os países devem se preparar para a nova gestão de Trump, que começa no próximo ano, Guterres destacou que o caminho mais eficaz é fortalecer o diálogo global.
“O mais importante é reconhecer o valor do multilateralismo e das instituições internacionais. Se os países reforçarem o papel das Nações Unidas, respeitarem as leis internacionais e mantiverem um diálogo mínimo, estarão mais aptos a defender o multilateralismo de forma consistente. Essa é a melhor resposta possível”, afirmou o secretário-geral.
A coletiva de imprensa ocorreu no centro de mídia do G20, ao lado do Museu de Arte Moderna do Rio. Durante a conversa, Guterres abordou outros temas, como os conflitos na Ucrânia e na Palestina, a crise climática e a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU.
Crise climática
“Estou vindo da COP 29, em Baku, Azerbaijão. Neste trajeto eu tenho visto e ouvido preocupações sobre a crise climática. O ano de 2024 deve ser o mais quente da história. Vemos os impactos em todos os lugares. E não precisamos ir longe. A seca na Amazônia e as enchentes no Sul do Brasil são exemplos contundentes disso”.
“Agora é hora de as maiores economias liderarem pelo exemplo. Falhar não é uma opção. Há muitos desafios, mas também há muitas soluções possíveis. Isso é crucial para restaurar a confiança e a legitimidade do sistema global”.
Estados Unidos e clima
“É óbvio que os Estados Unidos são importantes para conter a crise climática. Mas os Estados Unidos são um país federal e uma economia de mercado. E todos os sinais dados pelo mercado hoje são no sentido de priorizar opções sustentáveis mais verdes e mais baratas de produzir energia. Então, estou confiante de que que o dinamismo da economia americana e da sociedade americana vão se mover na direção da ação climática, ao reconhecer que a influência dos governos hoje é muito menor do que já foi no passado”.
Conselho de Segurança
“O Conselho de Segurança corresponde ao mundo de 1945. Para dar um exemplo, há três países europeus que são membros permanentes do Conselho de Segurança. Não há nenhum país africano, nem latino-americano. Ele não corresponde ao mundo de hoje, E tem revelado uma grande ineficácia por causa das divisões políticas. E tem um problema de legitimidade porque não representa a realidade dos nossos tempos. Há necessidade de reforma do Conselho de Segurança. E uma dessas questões tem a ver com a adesão de novos países, nomeadamente do Sul Global, permanentes ou não, e com revisão do método de trabalho para que possa ser mais eficaz. A reforma do Conselho é um dos pilares essenciais das mudanças para que tenhamos um mundo mais justo”.
Palestina
“Sobre o Oriente Médio, eu acredito que não podemos ter posturas dúbias. Nós temos que aplicar os mesmos princípios em qualquer lugar. Nós temos que aplicar a lei internacional. E no Oriente Médio nós precisamos de paz, mas paz de uma maneira que garanta os direitos dos palestinos, assim como os direitos dos israelenses, de ter dois estados vivendo em paz e segurança. E, ao mesmo tempo, nós precisamos direcionar a crise imediata. Nós podemos condenar o ataque do Hamas, mas reconhecer que eles não justificam o sofrimento coletivo do povo palestino. É preciso um cessar fogo imediato e prover ajuda humanitária efetiva em Gaza”.
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